Ursula Rösele
Quarentena em devaneio - dezesseis deles
#16
As escritas vão circundando tudo, mesmo que sua grafia não apareça aqui marcada A restrição dos espaços de agora vai, aos poucos, dando lugar à expectativa de muito menos do que costumavam meus olhos catar O vento, um presente Os cheiros, um deleite O desejo de capturá-los vorazmente com meu rosto desmascarado Até que chegou o dia em que precisei sair Abri as janelas do carro, deixei que meus cabelos ventassem e dali houvesse uma disputa pelas reentrâncias entre-panos. Deixei, como quem se despe devagar, que me tocasse o rosto, me revelasse um mais-além guardado em outrora Parei no destino. Pessoas, nem bem vislumbres, mas descaramento de real – uma fila descomposta em pequenos flancos à distância, uns com máscara, outros, intrépidos em seu despir disfarçado Virei de costas, havia vista ali, e um pouco ainda de ar A meu lado, uma planta. Nela, uma pequena abelha passava suas pequenas patinhas pela sua micro cabeça, totalmente absorta (delírio meu, confesso – ando precisando deles) Parei a mirá-la. Por instantes, abelha e eu, compartilhamos um mundo de alhures. Sem vírus, nem restrições Ela na folha, eu em mim, pisando naquele concreto. Ela na folha, pensei até que a mim sorrira Pensei, cá comigo e ela ali, perto/tão longe de mim Me leva abelha, para seu mundo de mel, e derrete comigo num sonho de outra era